terça-feira, 18 de setembro de 2012

Bonequeiras sem Fronteiras: pequeno histórico


A semente

Domingo, 22 de janeiro de 2012. Os quase 9 mil moradores da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos, SP, são surpreendidos por centenas de homens da polícia militar, que nas primeiras horas da manhã iniciam a violenta operação de reintegração de posse da área, invadida  desde 2004. Não há tempo para pegar nada. As famílias abandonam suas casas com a roupa do corpo, deixando para trás todos os seus pertences. Diante da situação emergencial, muitas famílias buscam amparo na casa de parentes ou amigos. Outros são levados para ginásios da cidade que se transformam em alojamentos improvisados. As imagens da operação correm o mundo. Há fumaça, há tiros, há medo. Rostos desolados de homens e mulheres que perderam tudo. Crianças chorando, assustadas. Centenas de animais deixados à sorte no terreno, outras dezenas mortos. Cacos e mais cacos das histórias de todas essas vidas por debaixo dos escombros.
Na intenção de minimizar o sofrimento ao menos das crianças desabrigadas, um grupo de bonequeiras mobilizado por Andréa Cordeiro, dollmaker de Curitiba, e inspirado no projeto Dolly Donations inicia uma campanha a fim de unir artesãs para produzir bonecas para essas crianças. A ação vai crescendo e o número de voluntárias se multiplicando através da página criada na rede social Facebook. Em pouco tempo já são 160 artesãs de todo o país e também do exterior, mobilizadas através da própria Dolly Donations, produzindo as Bonecas para as Crianças do Pinheirinho.
A primeira entrega acontece em 26 de fevereiro de 2012. Ainda não havia bonecas suficientes para todos os meninos e meninas desabrigados, mas se fazia urgente oferecer algum tipo de alento para essas crianças, diante sobretudo da situação precária em que se encontravam e da pressão e do caos que se estabeleciam dentro dos alojamentos, que estavam sendo pouco a pouco esvaziados. Cerca de 250 bonecas foram distribuídas pessoalmente por Andréa Cordeiro no principal alojamento.
A ação continua. Mutirões são realizados para a confecção de bonecas. Uma festa de Páscoa é organizada de modo que as crianças estejam reunidas em um mesmo lugar para a entrega. As bonecas continuam chegando, vindas de toda parte. 



Mutirão para confecção de bonecas reúne voluntárias em Curitiba.



A segunda parte da entrega é realizada nessa festa, totalizando mais de 450 bonecas entregues para as crianças desabrigadas.



 
Pequena parte das bonecas entregues para as crianças desabrigadas do Pinheirinho.


Nesse ínterim, as Bonequeiras começam a receber outros “pedidos”:  também em festividades de Páscoa, 60 bonecas foram entregues no Lar Amor ao Próximo, em São Paulo, onde um dos voluntários da ação pelos desabrigados também presta auxílio e outras 40 no GACC - Grupo de Assistência às Crianças com Câncer, em São José dos Campos, a pedido de uma das voluntárias do grupo das Bonequeiras.



Bonecas entregues na festa de Páscoa do GAAC, São José dos Campos.


O grupo se torna então, oficialmente, as “Bonequeiras sem Fronteiras” e inicia formalmente o planejamento de novas ações.


Logo do grupo criado por Ana van Pelt


A flor

E porque bonecas são carinho e há sempre uma criança dentro de nós, a segunda ação planejada pelo grupo destinou-se às idosas residentes no Asilo São Vicente de Paulo, instituição de Curitiba dirigida ao atendimento de longa permanência e cuidado a mulheres com graus diferenciados de limitações e necessitam cuidados específicos. Atualmente o  asilo conta com 160 moradoras, sua capacidade máxima.
Para aquecer as vovós no inverno gelado do sul, as Bonequeiras tiveram uma idéia genial: confeccionar luvinhas para serem entregues junto com as bonecas.
Foram 160 bonecas e luvinhas feitas com muito amor.
A entrega aconteceu no dia 26 de julho, dia da avó. A festa começou no refeitório, com música ao vivo. Um grupo de voluntárias esteve no asilo pela manhã para fazer as unhas das moradoras. Como as luvas eram sem dedos, elas queriam tirar fotos mostrando o esmalte! 



Entrega de bonecas e luvinhas no Asilo São Vicente de Paulo, Curitiba.


Mas como as Bonequeiras são aplicadas, sobraram bonequinhas. Uma das artesãs solicitou então que os mimos restantes fossem entregues no Lar Meimei, instituição que presta auxílio a crianças em situação de risco localizada em Caxias do Sul, RS. O Lar Meimei funciona como uma casa de apoio para crianças vítimas de abuso e negligência em um bairro bastante pobre da periferia de Caxias do Sul. Em sua própria casa, com a ajuda de seu esposo, a responsável pelo Lar (que encontra-se em fase de estruturação oficial em forma de ONG), recebe diariamente essas crianças. A elas é oferecido café, almoço e jantar. As crianças também são acompanhadas à escola e da mesma forma ao médico, dentista, etc, quando se faz necessário.
Após realizarem uma longa viagem que começou em São Paulo, um dos pontos de recolhimento das bonecas para a ação no asilo São Vicente, 80 bonecas caroneiras foram entregues durante uma festa realizada no dia 1 de setembro. 


Caroneiros do amor: o trajeto das bonecas até Caxias do Sul.


Entrega de bonecos no Lar Meimei, Caxias do Sul.                                                                     
     

O fruto

As Bonequeiras sem Fronteiras contam atualmente com 482 membros. Não somos somente artesãs profissionais: grande parte das pessoas que fazem parte do grupo nunca haviam costurado uma boneca, mas se motivaram a participar dessa rede de amor.
Participar das bonequeiras não significa somente fazer bonecas, mas ajudar nas caronas, nas entregas, nas idéias, na mobilização, planejamento e viabilização das entregas.
Não contamos com apoio politico, comercial, tampouco estamos ligadas a qualquer organização ou recebemos patrocínio. Todo nosso trabalho é feito voluntariamente e nós mesmas arcamos com o material e envio das bonecas.
Até agora já presenteamos crianças de todas as idades com cerca de 800 bonecos de pano e muito amor de verdade.

Nossa próxima ação acontecerá em outubro. Estamos em fase de produção de 450 bonecas que serão entregues para crianças de comunidades quilombolas do Vale do Ribeira. Quer ajudar?

Marília Toledo.



14 comentários:

  1. Uma historia feita de gente, que acredita no poder do amor simples assim...
    Marília parabéns pelo post, ficou tão claro que mesmo não tendo assistido na TV, pude ver as cenas pelo seu relato.
    Abraços calorosos em todas amigas que fazem sua parte para que um mundo melhor seja possível.

    Bjk
    Edna Moda

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  2. Sempre, sempre me emociona a força desse grupo que é movido elo único combustível capaz de mudar o mundo: amor.
    Não tenho duvidas de que fazemos a diferença. É isso que me move.
    Obrigada meninas! Obrigada sempre!
    Go bonequerias! ;-)

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  3. Amo esse projeto porque ele contraria toda "lógica" que tem nos desumanizado. Contra a violência, o carinho; contra a ganância, a doação; contra o imediatismo consumista, o lento fazer artesanal. Somos bonequeiras porque fazemos bonecas; somos sem fronteiras porque não aceitamos os limites e critérios impostos para separar pessoas. Isso pra mim é política mais pura, aquela de gente atuando no seu mundo para melhorá-lo. É Educação porque dá o exemplo de como as coisas podem ser. E é poesia também, porque não serve pra nada, só faz a vida valer a pena...Valeu, Marília Toledo, valeu Andréa Cordeiro, valeu, bonequeiras!!

    Obrigada pelo post, Marília Toledo, é um resumo fantástico de tudo que as Bonequeiras já fizeram

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  4. Olá Marília Toledo,

    Não há como ler seu Post sem se emocionar!!!
    Minha primeira colaboração ao Grupo está seguindo depois de amanhã.
    Tenho certeza de que sentirei daqui a alegria das 30 crianças que vão receber meu carinho através das Bonequinhas e Amiguinhos Imaginários que fiz para elas...
    A união faz a força e transforma!!!
    Muito já foi feito, mas muito ainda podemos fazer para tornar esse mundo um pouco melhor!!
    Abração carinhoso cá das Minas Gerais.
    Regina Coeli

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  5. Participante do projeto desde o início, fiz agora com voce uma retrospectiva de todo caminho que já percorremos e só tenho a dizer que adoro ser uma bonequeira e ver que o grupo só cresce...

    Parabens pelo post Marília!!!
    Beijo,
    Jud Martins

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  6. Olá, moro em São José dos Pinhais, faço parte do grupo do Facebook e gostaria de ir até aí aprender a confeccionar bonecas, possow Levo o material e vcs me ensinam...beijos e GO BONEQUEIRAS....

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  7. PARABÉNS......
    PARABÉNS A TODAS BONEQUEIRAS QUE FAZEM ESTA DIFERENÇA COM MUITO AMOR....
    POIS COMO DIZ AS COLEGAS ACIMA ...EMOCIONA MUITO SABER,QUE É CRIANÇA,QUE É IDOSO ENFIM...
    QUE O GRUPO POSSA SER SEMPRE MUITO UNIDO E SEGUIR SEMPRE COM MUITO AMOR ♥♥♥
    PODEM SEMPRE CONTAR COMIGO, POIS AMEI FAZER BONECAS.....
    BJKS MIL COM MUITO CARINHO PARA TODAS AS BONEQUEIRAS....
    MARIA DA GRAÇA

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  8. Dizer que chorei será repetir o que digo em cada post.
    Texto lindíssimo! Parabéns!
    Quanto ao grupo: tudo que de melhor há atualmente na minha vida. Amo as bonequeiras e cada criação, são demais!
    Espero em Deus que nos dê muitas e muitas oportunidades de descruzar os braços e fazer alguma coisa para melhorar o nosso mundo.
    Parabéns amigas. Neli Alves- Iaiá Arteira

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  9. Que lindo texto! Muito bom poder conhecer a história do nascimento do grupo! Estou muito feliz por poder participar!!
    Beijos

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  10. Esse é apenas o inicio de uma linda história...

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  11. Deus abençoe todas as bonequeiras para que não desanimem de sua missão;
    Proteja e ilumine suas familias para que tenhamos forças de levar carinho e amor para as pessoas que necessitam.

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  12. Nossa, que amor é esse???? Estou simplesmente encantada com tamanha doação de amor!!! É impossível não ficar emocionada com tanta beleza e dedicação. Deus as abençoe sempre... Parabéns!!!! Eu vou tentar fazer uma bonequinha de pano. Obrigada pelo exemplo. Bjs!!!!!

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